24/09/2015 às 8:03 - Destaques

O carate e a auto-estima de crianças carentes

Trabalho com crianças carentesEm 2015, 1% da população terá patrimônio equivalente ao dos 99% restantes. É uma desigualdade insana. Se quiser saber mais, clique aqui.

O Brasil, evidentemente, não é exceção, pelo contrário. Além do contexto mundial, convivemos com deformações estruturais criadas pelo modelo de colonização a que fomos submetidos. Se quiser saber mais, clique aqui.

Nas poucas linhas que se seguem, tentarei transmitir uma perspectiva sobre a capacidade transformadora do esporte, sobretudo neste contexto de profunda desigualdade, e ainda mais para aqueles que estão na base da pirâmide social.

Entender essa capacidade transformadora do esporte requer um pouco de esforço da sua parte, no sentido de se colocar no lugar das pessoas que vivem em situação de risco. Mais especificamente no lugar das crianças.

Somos consumistas. Infelizmente a maioria dessas crianças é submetida diuturnamente à propaganda que escorre das TV’s para nos convencer de que somos aquilo que temos (se não temos nada, não somos ninguém), entre outras situações que lhes escancaram a falta de tudo, até de amor.

O mais cruel dessa situação é que a criança não entende o que está acontecendo, apenas percebe que alguma coisa está errada, percebe que ela não se encaixa naquele modelo que é apresentado como sendo normal. Não só lhe falta o tênis de marca ou o brinquedo da hora, mas muita vezes falta o básico mesmo.

Estamos semeando medo, angústia, insegurança.. o que irá brotar no coração dos futuros cidadãos da nossa sociedade?

Esporte Liberta!

Várias modalidades esportivas podem ser comparadas a uma passagem para um mundo onde todos tem as mesmas oportunidades.

Uau! Um mundo perfeito, sem desigualdades? É possível isso?Karate Além do Esporte

Não se trata de alcançar o estrelato ou ganhar dinheiro, que são coisas que o esporte também pode proporcionar, mas que dependem de outros fatores “externos”.

Estou me referindo à mágica que acontece nos gramados, nas quadras, tatames, dojos, que só quem pratica esporte conhece: lá dentro, na hora do “vamos ver”, somos todos iguais.

Quando você entra na área de competição, não tem hierarquia, não tem o mais rico, o que tem pai influente, o maioral, o mais bonito ou de classe alta, o branco ou preto. Você é aquilo que treinou.

Essa é a filosofia básica de todas as artes marciais que conheço, assim como da maioria dos esportes.

Ao praticar carate, a criança carente percebe que, pelo menos naquele momento, pode fazer coisas boas, pode crescer como todos os demais, integrada e respeitada dentro do seu grupo.

Qualquer professor sabe do que estou falando. Salta aos olhos a transformação, tanto no apecto físico quanto emocional.

menino concentradoÉ lindo ver uma criança sozinha no koto, concentrada e conectada com suas energias, fazendo um kata superior (uma sequência complexa de movimentos), sob os olhos atentos de pelo menos 5 juízes e milhares de espectadores, inclusive seus familiares, sendo avaliada quanto a forma, força, velocidade, precisão, sincronia, respiração, concentração, (ufa!) e encarar isso com altivez, com coragem, com serenidade.

Em muitos casos é um resgate da auto-estima.
E isso é libertador. A desigualdade mutila. O carate, restaura.

A FGK tem um projeto de atendimento à crianças carentes. Clique aqui e saiba mais